sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Em cartaz: Ensaio sobre a Cegueira

Está em cartaz desde a semana passada, em todo o território nacional, o mais novo filme do diretor Fernando Meirelles, "Ensaio sobre a Cegueira", baseado no livro homônimo do premiado escritor português José Saramago. Para muitos, o livro era infilmável, por sua trama complexa, seus assuntos delicados e pelo usual modo de narrar do escritor. Fernando Meirelles tentou e, mais um vez, conseguiu o que queria: um filme de primeira.
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Na trama, uma epidemia de cegueira branca atinge diversos segmentos da sociedade, de forma contagiosa, espalhando alarme, surpresa e caos. Os infectados passam a ser segregados, pelo bem maior, e são despejados, aos montes, em instituições nada apropriadas para tal. Dentro desses verdadeiros "manicômios", vê-se a luta pela sobrevivência. E, no meio disso tudo, resta Julianne Moore, a única capaz de enxergar o que se passa...
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O slogan do filme já anunciava o que viria: afinal, quando todos estão cegos, enxergar pode ser o pior castigo de todos. E é o que acontece; a personagem principal, e o expectador, são obrigados a ver atos de brutalidade, de vandalismo, crueldade e raros exemplos da bondade humana, num retrato intragável da sociedade atual. Não surpreende que a crítica tenha se dividido: acostumados a filmes palatáveis, como "Eu sou a Lenda", em que há a imagem de um herói, há um esforço para se procurar uma cura para todo mal e mostrar que a humanidade é capaz de se superar. Aqui, o tom não é tão dicotômico; não há preto ou branco, a moral de cada um prevalece e, embora, sim, possamos crer que a humanidade "tem salvação", até chegarmos lá, poderemos ver nos deparar com cenas nauseantes, como as seqüências de estupro dentro da instituição...
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Fernando Meirelles permanece mostrando seu talento. É dele os não menos excepcionais "Cidade de Deus" e "O jardineiro fiel". Agora, neste campo mais árido da literatura, embora não tenha sido unânime, o diretor sai com um bom resultado; afinal, até José Saramago se emocionou e aprovou a transposição de sua história... Fernando, aqui, aposta em cores frias, em não revelar tudo ao expectador, em desfocar a imagem em alguns pontos, em contrastar luz e cores...
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Outro ponto que merece destaque é a atuação de Julianne Moore. É impressionante seu constante empenho em seus personagens, suas atuações brilhantes em filmes arriscados como este. Aqui, ela é quem nos guia no meio do caos instalado. Uma personagem sem nome, que pode ser tanto heroína como vilã, humana, como todos nós...


O conselho da cozinha da "Cantina POP" é: assista o filme, mas prepare-se para lidar com emoções com as quais não está acostumado (ou com as quais não goste de conviver). O filme ultrapassa a tela e oferece uma rara oportunidade de reflexão. E qualquer um que não veja isto é um verdadeiro cego...

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